Cinco
anos mais tarde mudou-se novamente, agora para Buenos Aires. Havia decidido
estudar medicina, mas amava viagens e aventuras. Finalmente em 1949, ao
lado de seu amigo Alberto Granado, aventurou-se em uma longa viagem de
bicicleta pela América Latina para conhecer seus habitantes e suas
condições de vida, história e geografia. Sua bicicleta
motorizada logo deu sinais de cansaço e estragou; porém o
sonho não teve fim. No Peru, trabalhou com leprosos e resolveu se
tornar um especialista no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem
chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo
do caminho e se identificou com a luta dos camponeses por uma vida melhor.Mais
tarde voltou à Argentina onde completou seus estudos em medicina.
Foi convocado para o exército, porém, no momento estava incompatibilizado
com a ideologia peronista. Não admitia ter de defender um governo
autoritário. Portanto, no dia da inspeção médica,
tomou um banho gelado antes de sair de casa e na hora do exame teve um
ataque de asma. Foi considerado inapto e dispensado. Já envolvido
com a política, em 1953 viajou para a Bolívia e depois seguiu
para Guatemala com seu novo amigo Ricardo Rojo. Foi lá que Guevara
conheceu sua futura esposa, a peruana Hilda Gadea Acosta e Ñico
Lopez, que, futuramente, o apresentaria a Raúl Castro no México.
Na Guatemala, Arbenz Guzmán, o presidente esquerdista moderado,
comandava uma ousada reforma agrária. Porém, os EUA, descontentes
com tal ato que tiraria terras improdutivas de suas empresas concedendo-as
aos famintos camponeses, planejou um golpe bem sucedido colocando no governo
uma ditadura militar manipulada pelos yankees. Che ficou inconformado com
a facilidade estadunidense de dominar o país e com a apatia dos
guatemaltecos.A partir desse momento que se convenceu da necessidade de
tomar a iniciativa contra o cruel imperialismo. Com o clima tenso na Guatemala
e perseguido pela ditadura, Che foi para o México. Alguns relatos
dizem que corria risco de vida no território guatemalteco, mas essa
ida ao Méxica já estava planejada. Lá lecionava em
uma universidade e trabalhava no Hospital Geral da Cidade do México,
onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou para conhecer Raúl
Castro. Raúl se encontrava refugiado no México após
a fracassada revolução em Cuba em 1953. Eles se tornaram
"instantaneamente" amigos e depois Raúl apresentou Che a seu irmão
mais velho, Fidel. Do mesmo modo, foi amizade à primeira vista.
Tiveram a famosa conversa de uma noite inteira onde debateram sobre política
e, ao final, estava acertada a participação de Che no grupo
revolucionário que tentaria tomar o poder em Cuba. Che relata essa
noite:
CONHECIO-O(FIDEL)
NUMA DAQUELAS NOITES MEXICANAS FRIAS, E LEMBRO QUE NOSSA PRIMEIRA DISCUSSÃO
FOI SOBRE POLÍTICA MUNDIAL. POUCAS HORAS DEPOIS - DE MADRUGADA -,
EU JÁ ERA UM DOS FUTUROS EXPEDICIONÁRIOS. NA REALIDADE, DEPOIS
DA EXPERIÊNCIA VIVIDA EM MINHAS CAMINHADAS POR TODA A AMÉRICA
LATINA E DO ARREMATE NA GUATEMALA, NÃO ERA DIFÍCIL INCITAR-ME
A PARTICIPAR DE QUALQUER REVOLUÇÃO CONTRA UM TIRANO, MAS
FIDEL IMPRESSIONOU-ME COMO UM HOMEM EXTRAORDINÁRIO. AS COISAS MAIS
IMPOSSÍVEIS ELE ENCARAVA E SORRIA [...] PARTILHEI DO SEU OTIMISMO.
ERA HORA DE FAZER, DE COMBATER, DE PLANEJAR. DE DEIXAR DE CHORAR PARA COMEÇAR
A LUTAR.
A partir
desse momento começaram a treinar táticas de guerrilha e
operações de fuga e ataque. Mais tarde, Che lembrou esse
período: Minha imediata impressão
ao ouvir a primeira lição foi a da possibilidade de vitória,
da qual eu tinha muitas dúvidas quando me juntei ao comandante rebelde
(Castro). Eu estava ligado a ele sobretudo pelos laços da aventurosa
e romântica simpatia, e pela convicção de que valia
a pena morrer em uma praia estrangeira por puro ideal.Em
25 de novembro de 1956 os revolucionários partiram para mudar a
história cubana.
Surge
o guerrilheiro
Chegando em Cuba enfrentaram forte ataque do ditador Fulgêncio Batista e sofreram várias baixas. Os que sobreviveram se dispersaram, passaram dias perambulando pela mata, enfrentando doenças, fome e iludindo tropas do governo que os perseguiam. Durante esses dias o então médico do grupo de guerrilheiros fez a crucial escolha que mudaria a história. Sendo atacados por aviões, um homem perto de Guevara deixou cair seu carregador de munição. Relata Che: "Foi, talvez, a primeira vez em que fiquei diante do dilema de escolher entre minha devoção à medicina e meu dever como soldado revolucionário. Ali, a meus pés, estavam a sacola cheia de medicamento e uma caixa de munição. Seria impossível carregar as duas, eram demasiadas pesadas. Eu peguei a munição, abandonei os remédios e comecei a atravessar o descampado, tentando chegar ao canavial". Reunidos em Sierra Maestra Cienfuegos, Raúl, Fidel, Che e mais treze guerrilheiros reorganizaram-se e, com o crescente apoio dos camponeses, foram travando e vencendo pequenas batalhas com Fulgêncio. Nesse momento, Guevara já se destacara como um dos mais competentes guerrilheiros e, assim, Fidel concedeu-o o posto que até então só ele possuía, o de comandante. Enfim, em 1959 a Revolução Cubana se concretizava e os guerrilheiros tomavam o poder.
No novo governo instaurado, Fidel assumiu o cargo de primeiro-ministro
e os outros revolucionários, apesar de não terem cargo oficial,
eram, juntamente com Fidel, quem detinha o poder. Já versado em
Marx e Lênin e defensor dos ideais comunistas, mas não do
comunismo ortodoxo ao qual era averso, Che defendia a revolução
cubana como o início de um processo revolucionário através
da América Latina. Em 1959, Guevara, que já havia recebido
de Fidel a cidadania cubana por seus serviços prestado à
revolução, redige A Lei da Reforma Agrária, concedendo
terra a milhares de camponeses que passavam fome e viviam na miséria.
Para aplicar a Lei, criou-se o Instituto Nacional de Reforma Agrária,
o INRA. Este logo converteu-se no mais importante organismo do país.
Já com Fidel como presidente, Che foi nomeado ministro da Indústria,
tornando-se o encarregado da industrialização em Cuba, que
já estava adotando o caminho socialista com rapidez. Os programas
propostos por Guevara tiveram grande aceitação popular, pois
a vida dos cubanos melhorava muito, e, em novembro de 1959, Che foi nomeado
presidente do Banco Central. Negociou a venda do açúcar cubano
para a URSS, o que impulsionou a economia cubana, uma vez que os EUA já
tinham decidido não mais comprar açúcar cubano em
revelia ao comunismo vigente na ilha. Guevara criou o órgão
de planejamento central, que controlava a economia cubana e o plano de
nacionalizações, que transferiu para o Estado toda a indústria
de base pertencente a corporações estrangeiras.
Para ele
a revolução deveria ser voltada à mudança da
consciência individual e dos valores dos cidadãos, gerando
um novo homem, desprovido do egoísmo, individualismo e demais males
gerados pelo capitalismo. Com isso, incentivou os cubanos a trabalharem
duro, se dedicarem à revolução e a desenvolverem uma
nova escala de valores. Na frustrada tentativa norte americana de invadir
Cuba e retomar o poder, Che, ao lado de Raúl Castro e Juan Almeida,
liderou o exército cubano na defesa da ilha. Foi um sucesso.
Agravada
pelo bloqueio imposto pelos EUA e pela hostilidade do sistema financeiro
mundial, a diversificação da produção agrícola
cubana não apresentava resultados. Guevara até assumiu que
havia errado na tentativa de diversificar a prdução agrícola
de uma única vez, ao invés de fazê-la gradualmente.
No final de 1963, Che começou a atuar na diplomacia e relações
internacionais. Visitou inúmeros países, como Egito, Índia,
Paquistão, Japçao, China, URSS, em busca de apoio político
e econômico. Sacudia o mundo com inflamantes discursos. Provocava
a ira da ONU e da OEA ao denunciar as explorações imperialistas.
Porém, começou a criticar a URSS, por considerar a mesma
incapaz de fornecer ajuda adequada aos movimentos revolucionários.
Dizia: "Os países socialistas têm o dever vital de fazer dessas
revoltas contra o sistema capitalista um sucesso". Declarações
como essas desagradaram alguns dirigentes cubanos que desejavam um estreito
relacionamento com Moscou. Quando chegou a Cuba ficou desaparecido 18 meses.
Cogitou-se que havia morrido, rumores corriam por todo o mundo. Na verdade,
nesse tempo Guevara e Fidel estavam tentando definir qual seria o papel
do guerrilheiro dentro da revolução cubana.
O grande desejo de Che era uma revolução continental, a libertação
da América Latina do julgo imperialista, e, mais tarde, a libertação
do mundo. Assim sendo empreitou-se em revoluções na Venezuela,
Congo e, mais tarde, na Bolívia. Nos dois primeiro não obteve
êxito e disse: "Não havia desejo de lutar, os líderes
da oposição eram corruptos. Numa palavra, não havia
nada a fazer. O elemento humano fracassou". Considerando Cuba como "apenas
uma passo em sua luta latino-americano" partiu para a Bolívia. Muitos
diziam que a saída de Che de Cuba fora causada por um desentendimento
com Fidel, mas este desabafou: "Ninguém sabe o que eu sentia por
ele. A seu próprio pedido, guardei silêncio durante seis meses,
e isso foi muito difícil. Havia pessoas que já falavam que
eu o tinha matado. No México, quando ele se juntou à expedição
do Granma (nome do navio que conduziu os revolucionários do México
até Cuba), foi combinado que, uma vez bem sucedida a revolução,
iria embora lutar em outras revoluções. Não sei como
fui capaz de o manter em Cuba por tanto tempo. Mas eu tinha prometido que
poderia partir quando quisesse e que eu não tentaria trazê-lo
de volta".
Fidel e
Che acreditavam que uma revolução na Bolívia, seria
o estopim de revoluções por toda a América Latina.
Guevara iria preparar os guerrilheiros e Fidel o ajudaria mandando pessoal,
recursos e dinheiro. Fazendo uso de um passaporte falso, Che entrou no
país, porém suas complicações começaram
quando Mario Monje, presidente do Partido Comunista Boliviano, negou apoio
a Che, pois insistia em comandar a revolução. Ganhou a solidariedade
de alguns dissidentes, mas eram em pouco número e completamente
despreparados. Che começou a treiná-los, mas eram vítimas
constantes de moléstias e grandes dissidências. Até
mesmo Che sofria graves crises asmáticas. Então, Fidel anunciou
que Guevara estava em algum país da América do Sul preparando
uma revolução. Regimes direitistas em todo o continente tremeram.
Mas, na realidade, Che e alguns poucos homens estavam lutando para sobreviver.
Ao contrário de Sierra Maestra quando contavam com o apoio dos camponeses,
na Bolívia nem um único camponês aderiu à revolução.
Eram índios que falavam pouco espanhol e viam Guevara com estranheza.
Os camponeses viam Che e seus seguidores como "estranhos tentando iniciar
uma guerra, e não como libertadores do povo oprimido". Assim sendo,
informavam ao exército a localização dos rebeldes.
A guerrilha na Bolívia jamais reuniu mais de 47 homens, porém
obteve grandes vitórias sobre o exército local. Mas, em 31
de agosto, os bolivianos encontraram e aniquilaram grande parte dos guerrilheiros.
Restavam apenas 17. O fim se aproximava.